a janela

eu olho pela janela do quarto e é como se eu visse o meu passado,
presente e futuro.
o peso de tudo aquilo que eu ainda não fiz cai sobre as minhas costas como um muro desabando sem eu saber. mas ando sentindo esse peso.
a cabeça dói, eu já não durmo mais, conto os dias com desespero e ansiedade.
bebo café, olho a janela.
penso em fugas, saídas e rodas gigantes.
olho pela janela. minha vida tá toda lá fora.

tá foda arrumar um emprego, algo que te valha e te faça um cidadão comum.
eu olho pro nada do outro lado da janela e imagino que as coisas devem possuir seu sentido próprio.
até mesmo o vazio e o nada.

poxa, deve ter seu sentido próprio.
sua vontade. seus sonhos.
a realidade é um choque brutal. tá foda ser um cidadão comum.
a sociedade tá uma merda. tudo desabando. como um muro na nossa cabeça que cai sem avisar.
acendo vela pro amor. acendo vela pra cada desespero contido que não digo,
respiro,
vomito
cada coisa que me passa pela cabeça e tento descrever
numa dança não linear
numa realidade de coisas que não existem.

olha só, mais uma vez as coisas todas se misturam.
separando cada grão de feijão
como um astuto rei de espadas.
um rei que não sabe se corta cabeças com a sua espada ou se
no caso se mata com ela própria.

coberta de razões, sempre.
aquecida,
esquecida,
entorpecida.
imagino a arte salvando todos.
o toque supremo da emoção e da provocação.
e ela tá lá em cena,
bela e plena,
e vai pra cima de quem tá ali assistindo como um leão.

querem acabar com a cultura.

mais do que já acabaram comigo?
meu emocional não suporta tanta limitação e pudorismo
quando na verdade
eu só quero
aquilo lá.
nada de compromisso,
num estado omisso,
gente como eu continua morrendo.
os sonhos continuam não sendo alcançados.
e porra,
eu continuo procurando um emprego.
e nessas, eu olho pela janela e me sinto sufocada.
e gente aí fora se preocupando com facada.
pelo amor de deus.

será que as pessoas tem alguém pra conversar numa noite dessas?
escura, com calafrios pelo corpo, a cabeça cheia de coisa e a inação te comendo o juízo?
será que o tempo de espera das coisas te garante algum exito ou só a ausência da culpa de alguma possibilidade que daria errado?
como assim?
assim, assim.
eu não aguento mais.
e nessas de não aguentar acabei aguentando muito.
olho pela janela. acendo vela. não respondo mensagens.
silencio. preocupações. falta grana. falta gana. falta fumo. falta norte.
talvez um pouco de sorte,
pra olhar de novo pela janela e quem sabe
quem sabe
quem sabe.
passado,
já não estou mais lá.
presente,
já não queria mais estar aqui.
futuro,
to caminhando.
talvez a contra gosto,
mas indo e rindo das minhas próprias desgraças e fazendo gozo novamente com o que não existe.
aqui.

tudo bem.
a janela ainda está lá.
acabaram as velas, os incensos e o fumo.
mas a janela continua lá,
e a insanidade dos protestos internos remoídos de desentendimentos e ansiedade continuam aqui.
tá tudo bem.



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