vinte e sete do sete

tua imagem me fascina
a forma como teus olhos veem o mundo
e a forma como eu queria preencher esse mundo
que não se estrutura em nada
e eu sigo sem entender
nada.

já faz um ano,
acordando e sempre o primeiro pensamento do dia,
tem dia que eu ainda nem acordei
e vc já está lá
e minha pele arrepia tanto que até dói
os calafrios
e as noites frias de inverno que eu gosto tanto
e que dialogam com o mar congelado que eu tenho por dentro
perfurando aos poucos
como uma forma de tentar desapegar um pouco,
um tanto
quanto
eu queria.

o primeiro pensamento do dia de vários dias,
já vai fazer um ano,
e eu desenrolei muita coisa nesse meio tempo,
por mais que eu me sinta como o Le Pendu,
é a dança da vida dizendo que não se pode ter tudo em seu tempo
é a dança da vida dizendo.
é a dança da vida dizendo que tem mares que não podem ser navegados.
a jangada é pequena,
vira com qualquer onda pequena.
não pesa tanto quanto o que foi estruturado antes,
e é engraçado como as amarras são invisíveis porém existentes.
a liberdade é uma falácia que todo sonhador gosta de se iludir.

eu sei das consequencias.
Le Pendu,
suspensa.

não vejo outros caminhos se não continuar alimentando
o meu primeiro pensando do dia.
e último,
como se já não fosse o bastante.
preenche como vento.
o último também.
e eu já não durmo bem,
minha cama virou uma coisa fria e amedrontadora.
dormir já não me acolhe como já me acolheu nos dias em que eu queria sumir e fingir que não existia.
hoje eu não tenho outra alternativa se não lidar comigo mesma.
viva.
acordada.
enrolada em mil coisas da cabeça que tá la nas estrelas
tentando entender os limites e as possibilidades dessa porra toda.

não sei quando vou poder te atravessar como o vento atravessa seu rosto.
nem sei quando eu vou conseguir libertar a imagem idealizada da mulher que construi
essa mulher que foi deixando coisas pelos caminhos.
abandonei cargas que eu acreditava serem tão minhas que nem a mim eu via mais.
não me identifico mais com essa relação, eu disse.
e a perda foi gigantesca,
como se eu já não estivesse mais no controle de nada,
e durante a dor que eu passei nas noites frias e solitárias do quarto escuro onde eu tento me esconder do mundo,
eu vi que não tenho o controle de nada.
nem daquilo que eu sinto,
daquilo que eu já senti,
e da posição que estou hoje.
 só me resta o nada,
porque parece que nada mais preenche.

o primeiro e o último do dia,
e é uma posição bem desconfortável querer se soltar de algo que vc quer se amarrar mais e mais.
eu olho pra tudo aquilo que não faz sentido e danço com a surrealidade das coisas.
eu queria estar ali e preencher aquele espaço que eu desenhei perfeitamente pra mim.
pro meu tamanho.
acontece que eu tenho escutado muita música que me leva pra longe dentro da minha própria cabeça,
mas onde quer que eu vá eu encontro vc,
ou tentando escapar de alguma coisa ou querendo me encontrar mesmo.
meu cansaço é evidente,
e eu tenho dó do meu traveseiro
pq minha cabeça anda uma loucura.
e eu ando fugindo das pessoas
e das responsabilidades,
pq falta graça.
eu to constantemente nessa ansia de desbravar o mundo e os seus segredos,
questionando e vivendo,
passando pelas experiencias.
vivendo tudo aquilo que eu crio na minha cabeça,
mas a realidade da coisas me puxa de uma forma violenta,
como se me lembrasse de que eu não posso viver o sonho dourado que eu planejei pra nós.
acontece que hoje eu acordei,
e ontem quando consegui dormir já sabia que acordaria agoniada,
e acordei na pura agonia de ainda ter vc na minha cabeça como uma sombra que preenche tudo,
e sem ter nada ao meu lado na cama a não ser meu material de estudo e o vazio existencial de uma mulher na casa dos vinte anos.

hoje eu precisava escrever.
segurei a semana inteira.
hoje eu acordei e minha não já escrevia sozinha sobre tudo
que é muita coisa
mas que me cabe.
não precisa fazer sentido.
eu ainda não entendi nada.
na real?
muita coisa mudou desde que parei de escrever pela primeira vez
mas se tem uma coisa que não muda
é a insanidade que eu tenho pra acolher os amores que eu quero.
é uma questão de querer.
não tem sentido, parâmetro ou discernimento.
é questão de querer,
e eu
sigo
querendo.
todos os dias.
te querendo
todos os dias.

a vontade é fugir.
como sempre.
me fode?
sim.

já faz um ano.


Comentários