Refúgio

é péssimo saber que eu ainda espero por você,
isso me lembra de como eu era há alguns anos atrás,
quando eu já não escrevia mais
e depois de todo esse tempo
em que eu retomo algumas coisas,
já aprendi muitas outras,
sigo questionando os pesos, os milagres e as rezas todas
e levando comigo sempre parte daquilo que já me coube.
sabe,
é como se eu gostasse do apego,
de me abraçar a alguma coisa mesmo que ela não esteja ali
comigo,
na mesma sintonia
me abraçando de volta
é como se nem precisasse de volta.

mas sabe,
eu gosto das sensações que eu encontro quando isso acontece,
é um calor bom e acolhedor
me lembra muito do que eu já fui, do que sou e do que eu planejo ser
e isso é interessante
é uma energia atemporal
e tem a sua energia no meio disso tudo
e parece fazer tanto sentido
que eu nem questiono mais.
parece uma música,
com todas as melodias encaixadas
a catarse parcelada
pq o tempo não importa mais
chão da sala
frio
chuva
eu
de novo.
como há tanto tempo atrás
e lá na frente
sigo eu repetindo os mesmos medos aparentes
e os apegos que já criam raiz
e eu sempre peço para que fiquem
para que fiquem
para que fiquem
mas entendi algumas coisas no meio desse caminho
no final das contas,
o tempo é mais que amigo,
é rei que governa as verdades.
inquestionável.
tá chovendo lá fora,
na verdade o tempo está ótimo,
se chama solitude,
aqui no meu escuro pensando sobre vc especificamente.

minha escrita mudou consideravelmente nesse meio tempo,
mas muitas coisas permanecem as mesmas.
como os meus desejos,
os apegos
e algumas manias na hora de escrever
como
separar
cada
linha
por
uma
palavra
catártica
pra
mim
no
momento
em
que
escrevo.
redução de danos.
porra, eu amo pra caralho.
depois de todo esse tempo eu chego nessa conclusão
e tudo bem, sabe.
a verdade é que todo mundo busca algum tipo de libertação
a minha é mergulhar no outro,
sem pudor algum.
sigo balançada pelo tempo,
pelo vento,
aqueles que são rei e rainha,
e eu mulher na terra,
imersa em água mas pegando fogo por dentro.
é tudo muito louco,
as vezes eu quero negar parte de muitas coisas,
mas não faz sentido,
como eu esperando agora
por
vc
que coisa.

redução de danos.
sigo escrevendo sobre aquilo que já me coube.
olho pela janela o céu cinza e imenso
eu me vejo nele
sem fronteiras
livre
temperamental
e é nisso que eu me inspiro.
e sigo.
seguindo.
medindo cada passo,
tentando decodificar umas paradas
vivenciar outras
apontando algumas flechas pra não fazer merda.
fazendo milagre pra enxergar no escuro,
fazendo mandinga pra tudo o que é santo
tomando banho
olhando a lua
respirando o universo
te dando um tempo de tudo
deitando naquele chão frio da sala
com a chuva lá fora
e tudo isso rolando aqui dentro.
é difícil explicar.
sempre digo isso.
mas ok.
beleza.
a gente volta a se falar
e recomeça tudo de novo
como o sol no tarot,
quentinhos e entregues pq se sente seguro
e eu me asseguro de fazer tudo certo dessa vez,
como sempre achei que estava fazendo.
a gente sonha muito né?
mas ta tudo bem.
não existe lei, nem regra
nem nada.
o velho e bom nada.
a gente questiona muita coisa né?
minha cabeça não para
as vezes eu queria ser três pra conseguir colocar tudo em ordem aqui na minha cabeça
e as vezes eu queria ser nada.
escuro, silencio
aconchego.
eu gosto da ideia da um andar bem no alto de um prédio
um apartamento quentinho e distante.
eremita.
em que eu estaria de cima vendo o caos urbano comendo solto lá
tem um som rolando no ar
tem vinho
jogo tudo no chão,
meus livros
me deito ali
em silêncio
escutando aquele som que parece fúnebre mas soa divino também
as coisas se ajeitam.
a gente sonha demais né?
algumas coisas permanecem do mesmo jeito.
eu continuo me sentindo a mesma.
santa
puta
prostituida
mulher
viva
escarlate
tempestade
em
copo
de água
sem tirar, nem por.
mas eu prefiro sem tirar.
joga tudo no chão.
como a torre.
redução de danos.

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