Anos 90

Acordei com olhos de cachaça hoje.
Foi terrível engolir de tão seca que a boca estava. 
Entalava o nada na garganta e eu ainda me perguntava se alguém teria lembrado da rainha.
Sozinha.
Era assim. 
Tipo um filme dos anos 60.
Cinema francês.
Romance, 
disfarce,
cansei. 
E do nada lembrei da sereia que vinha e me trazia sonhos.
Eu acordava como se o mundo tivesse acabado.
Era o caos voltando para me dar bom dia.
Está tudo bem?
Eles perguntavam,
e minha cara inchada dizia que não.
Minha voz fosca dizia,
tudo.
Tudo que eu aprendi nesse meio tempo de comer o lanche foi nada.
O nada que sufoca, sabe?
Aquele que fica dançando na cabeça e quando finalmente fala o que tinha pra falar...
Nada.
Porque o nada é o nada.
Ela era a princesa dos anos noventa. 
Cigarro de quase setenta,
cabelos rebeldes de quem já não aguenta mais.
Não estou aqui pra brincar,
dizia.
E eu ria, 
porque tudo isso nunca passou de uma brincadeira.
Bebia calmamente e dizia,
olha só que brisa.
Passou.
Tão rápido que nem vi,
e quando acordei de manhã já não era mais princesa.
Era nada.

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