Essa tua miséria me cheira a afeto

Escuta,
essa sua loucura que você chama de liberdade é uma merda.
E sabe onde eu encontrei isso? 
Naqueles olhares que eu te entregava sem esperar que você retribuísse os mesmos. 
E você me agradecia. Que tipo de pessoa agradece pelo modo como você a olha? 
Você.
E eu entrei nessa sua dança que mais parecia samba.
Sambei mesmo.
E voltei pra realidade fria que me arrebenta a cara todo santo dia ao imaginar que você está bem.
Porque eu fiquei mal. Pensei que você estava mal.
E ainda estou.
E você está lá. Bonito e iluminado como se eu não tivesse passado por aqui, e talvez eu não tenha passado mesmo. 
Foi coisa linda da minha cabeça. Certeza.
Imaginei você.
Imaginei sofrer. 
Porque sofrimento e agonia é coisa que me agrada.
É poesia pelada. 
É coisa da minha cabeça que eu vejo com tanta clareza que até parece verdade.
Não é a toa que te achei, e te olhei daquele jeito.
Feito vento.
Te contei parte de mim, e achava que você dividia comigo parte dessa sua loucura.
Essa neura toda de que todo mundo é uma merda. O que não é surpresa.
E se eu pudesse apostar como tudo isso iria terminar, eu ganharia um milhão.
Um milhão de promessas incertas e preces de quem não tem fé.
Eu tive.
E ainda tenho.
E quero te arrebentar a cara.
Porque tenho raiva.
Enganada.
Prostituida em troca de miséria.
Esse teu afeto é uma farsa.
Até quando essa sua máscara vai suspender diante dessa cara bonita?
Me responde.
Mas escuta,
eu te quero bem sujo.
Na rua,
apodrecido,
pensando em tudo o que viajamos,
e que venha.
Como sempre fez.
Porque eu sempre estive aqui.
Sempre.
Mas sempre como escape.
Porque eu sou isso mesmo.
Nada mais que isso.
Só isso.
Eu não sirvo para nada mais além disso.
Entende o que digo?
As pessoas sempre querem falar.
Escutar? Jamais.
Sempre querem dividir seu peso.
E eu não quero falar mais nada.
Não acredito mais em quem tem dois olhos e um coração.
Porque todos são cínicos como o amor verdadeiro.
Todos te querem como escape.
Porque você é uma válvula mesmo.
Aceite.
Você não é nada a mais que isso.
E vão te julgar sim.
Vão te comer a alma por você ter se disposto a isso.
Mas como você não viu?
Tão óbvio!
Ótimo.
Me beija então.
Vocês falam demais.
E ninguém se importa.
Fiquei tão monstruosa depois desse novo filme,
que hoje estou aqui,
prostituta,
e santa,
de cabelo grande e bem negro,
calcinha branca,
mamilos pequenos,
mão lisas,
Lolita numa delas,
minha alma,
minha lama,
e olhando friamente pro próprio filme da minha vida,
e percebendo que foi mal filmado.
Você sabe que eu sou tudo aquilo que você sonhou.
E correu.
Quero seu sofrimento agora.
E depois disso,
quando estiver no inferno de novo sentado no colo do capeta implorando atenção,
eu estarei aqui.
Sua prostituta.

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