Tchau Helena.

Helena estava um tanto quanto alheia.
Tinha o cabelo longo e bem negros escorrendo pelas costas, o que já dizia muito dela. Tinha então uma noite meio estranha com gosto de cerveja barata.
E aquilo lá já estava se tornando algo que nem ela conseguia explicar, porque ia acontecendo assim. Do nada. E era páscoa.
Semana santa, e não fez promessas em quaresma nem nada.
Só deixou.
Estavam lá, no meio da sala, abraçados. Um tom meio medroso na voz. Uma meia luz que cobria o universo de desespero. Só deixou. O rosto dela estava muito próximo do dele. E como era mais alto, sentiu quase que na obrigação de se mostrar maior. Helena colocou a mão na nuca do cara e esperou a reação.
Só deixou. Porque era isso que ela fazia. Ele deu um meio sorriso que dizia "É isso aí" e segurou na cintura dela como quem segura um pedaço de carne assada pra comer qualquer hora. Num almoço qualquer. E aquela era uma sala qualquer, com pessoas quaisquer. O que já dizia muito dele.
Helena reparou pela trigésima vez que toda vez que ele dava aquele sorriso de filho da puta matador, rugas de idade se formavam nos cantos de seus olhos. Sua barba fazia um formato estranho. Ela gostava e deixava.
Tinha dois mundos em colisão ali. Um na cintura e outro na nuca.
Helena é louca.
Previa a loucura de manhã.
E saia de casa fazendo promessa. Não prometia a tarde. De noite realizava.
Na madrugada rezava de joelhos no tapete com os olhos fechados e um leve formigamento na boca.
Não havia nada na sua cintura agora. Sentia uma mão no cabelo que colava nas costas.
Era a prece mais linda.
"Você tem todos os pecados em você, não tem?"
 "Eu consigo ver o universo daqui."
"Eu vou embora e volto de manhã."
"Tem café?"
"Quer mais vinho?"
Tchau Helena.

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