Com amor, Sara

Você vinha e dizia tudo o que tinha pra dizer 
e eu nunca falava nada.
Segurava minha mão,
rezava,
fazia promessa,
e depois me regava com aqueles olhos piedosos de quem mente e não sabe porque mentiu.
Me segurava forte pela cintura,
por vezes descia a mão, 
e eu apreciava com ternura,
sempre mais contemplação 
do que doçura,
eram sempre mais promessas
do que a verdade nua.
Mais nua ainda do que eu,
deitada no chão,
com as costas frias
e as coxas quentes.
Sem saber o que dizer de novo,
nunca sabendo pra onde olhar,
fixar um ponto.
Peguei um cigarro,
acendi nas suas incertezas,
era só uma noite,
sem créditos a mais,
flores mortas no sofá 
ou vinho derramado no tapete.
Era aquilo ali mesmo, Sara.
Você, 
nua no chão,
com as costas frias,
e ele lá,
te olhando fumar,
fumando também,
cantando mentalmente Garota de Ipanema,
coisa que você não é,
pois é mais filha de São Paulo do que a própria garoa,
e estava lá tentando entender o quão demorado seria mais essa ilusão.
A última durou 3 meses,
ou por volta disso.
A outra,
mais.
Mas todas duraram.
Queria saber se ia ter tempo de preparar o café,
ou se até lá já teria acabado,
ou quando tivesse acabado o cigarro,
quem sabe,
Sara possa ter terminado.
Terminou-se então ali.
Sara no chão,
terminada,
ele no sofá seminu,
começando.

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