Dos meus mares, o maior.

Tuas mãos são como grandes balanças,
e elas balançam como o ar
que não para
e vem correndo e agarra todos os desesperos
e anseios
e medos,
daquele lá que fica sozinho
pensando nos sorrisos,
nos abraços apertados dos amigos,
daquele momento de se sentir infinito,
e ela corre
porque permanecer ali já não é mais vantajoso.
Sejamos francos um com o outro:
ele não existe,
ela escuta os aviões.
Tua voz meio rouca diz assim:
Eu vou te levar pra longe,
espero que o seu coração seja forte o bastante.
O mar ri,
porque ela não acredita
e mesmo assim
facilita,
para que seus aviões voem livres.
Está lá em cima,
vê?
É o desejo de estar perto,
aquele quase orgasmo,
a sensação de que depois dali nada mais vai esperar por você,
e querer sair dali
porque o ar já não existe mais,
e sente o mundo girando,
e tudo dançando a sua volta,
ela não volta,
não volta
e não volta.
Ficou ali passando mal no meio do mundo.
Seu mundo,
sujo,
cheio de fome,
cansado,
mas seu.
Porque deve se tratar disso mesmo,
esse lance de Carpe Diem 
e essas coisas de fazer e realizar.
Se fazer
e se realizar.
Se não tivesse feito,
não teria se realizado.
Se não tivesse pago,
não teria entrado.
Se não tivesse esperado por mais de 10 horas em pé,
sem comer,
sem sair,
tendo chorado um pouco,
não teria saído correndo para dentro quando o portão do inferno abriu.
Tentaram impedir.
Ela recuou,
mas quer saber de uma coisa?
Ali era tudo seu,
porque ela comprou com sonhos,
e correu.
Segurou tão firme na mão do seu santo
que sentiu sua alma sair pelos olhos ao ver a imensidão daquilo.
Era lindo.
E esperou mais um pouco em pé.
A cabeça a mil.
Os pés doendo 
e as pernas querendo ceder.
Ela estava lá para ver.
Ela tentou sentar no meio do mundo.
Quase foi pisoteada,
e esmagada. 
Não sentou mais. 
Ajudou seu santo a se levantar.
Quase o machucaram também.
Achou graça quando o santo gritou com o mundo pedindo espaço.
Ele só estava ali porque ela estava. 
E ela estava ali por que devia.
Sorria,
mesmo quando seu corpo doía.
Que coisa estranha essa de harmonia.
Ela ainda sorria.
As luzes foram ao breu.
O barulho que ela escutou fez seu coração explodir de dor.
Não sabia se ela iria aguentar até o fim.
Chorou.
Mas chorou muito.
Nunca chorara tanto,
mas estava feliz.
Tentou chegar mais perto e quase se machucou.
Tentou manter-se em pé.
Sentiu sua mão escorregar.
Seu santo tinha ido viver a harmonia dele.
Só estava ali porque ela estava.
Eles estavam lá,
no alto.
Vê?
É aquele quase orgasmo de novo.
O desespero de encarar o verde,
o azul
e o castanho dos olhos.
É ouvir a voz e gritar como se sua garganta fosse feita de ouro.
E não saber se chora ou se ri,
e na dúvida
chora e ri ao mesmo tempo.
O olhos ardendo,
o corpo cedendo,
o santo morrendo.
Não sabia se aguentaria.
Sentiu uma coisa estranha no peito.
Parecia queimar.
Estava passando mal de novo.
Levantou a cabeça tentando respirar,
buscar aquele ar,
e o seu rosto que de tão suado e molhado de choro
parecia o mar.
Sentiu uma brisa no rosto
e o mundo dançava e pulava a sua volta.
Umas pessoas desceram de seus mundos e lhe perguntou: 
"Está tudo bem?"
E ela chorando feito criança,
gaguejando,
respondeu que sim.
Mesmo sabendo que não.
Tentou se recuperar e olhou pra frente.
Era o seu santo.
Estava sendo carregado para fora dali.
Bem vindo seja
o desespero.
Ela gritou,
chorou ainda mais,
puxou os cabelos.
Tentaram acalmá-la.
Ela não cedeu.
"Ele está comigo,
por favor não me deixe sozinha."
Ele só estava lá por ela.
e ela
vice-versa.
"Por favor"
E chorou.
Ela estava perto. 
Estava feliz.
Estava insana,
e quase por um triz não se desfez
e se deixou ficou por ali mesmo.
Antes de acabar,
seu corpo já não aguentava mais.
Ela ia desmaiar e ser pisoteada pelo mundo.
Reaja!
Ela deu as costas
e cedeu.
Saiu andando por entre vários mundos.
"Eu estou passando mal,
por favor, me deixa passar."
Não deixava.
Ela insistia.
Bem vindo seja novamente o desespero.
Quando caiu por terra,
na realidade,
fora de seu mundo,
ela desabou.
Percebeu como o chão era fofinho.
A gritaria continuava.
Eles ainda estavam lá no alto.
Era maravilhoso.
Como ninguém mais consegue sentir isso?
Ela estava de joelhos no chão em um canto.
Chorava toda sua vida pelos olhos.
E tampava o rosto para ninguém ver seus olhos inchados.
Havia acabado.
Perdera seu santo.
Voltara a realidade.
Crueldade,
para quem só quer viver de sonhos,
e nos seus planos,
por mais insanos,
não passavam estranhos.
Do outro lado da rua, fora daquilo tudo, achou seu santo. 
Fora o abraço mais que tanto.
Tando de dor,
sofrimento
e agonia.
Era maravilhoso.
Os dois choravam.
Estavam na beira da rua enquanto passava muitos carros.
Pessoas por todos os lados.
A realidade voltava trazendo flores.
Era o soluço que repercutia em cada músculo do corpo,
as pernas que já não se aguentavam,
a fé que estava abalada,
as mãos que como balança,
balançava.
Era o sonho que por pouco 
acabara.
Fora o dia mais feliz de sua vida.

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