Ana

Nenhum mundinho é tão particular a ponto de não ter como dividir, pensou Ana. 
Mas a questão não era essa. Ela não queria dividir nada. 
Era dela, e de tão dela virou o teto de seus pensamentos. Insanos.
Ana, que não era boba nem nada, rejeitou um convite de jantar para assistir novela na tv aberta. Saiu do sofá e foi  fumar um cigarro na janela.
A vida é toda dela.
Tola mulher que nada espera.
Achava chato tudo aquilo. Era como ver um grande estrago com flores. Isso porque ela ama flores, e mesmo que esteja com a visão do inferno, ainda nela terá flores. Porque ela gosta delas.
Procurava alguma coisa menos nojenta na tv. Abria as penas no tapete. Não via graça na telinha. Desligou. Pescou alguma coisa que virasse sua cabeça.
Lá no alto, no seu teto tinha um céu azul e só sobrava pra ela escolher entre o mistério e a vida como ela é.
"Ô mulher, você quer uma revolução." 
"Apenas não é maneira certa de se esperar as coisas", pensou com a parede.
"Você me entente, não entende?" Pensou de novo.
Porque era isso que ela fazia. Pensava e não realizava. Prometia e não cumpria.
Mas te garanto que nunca imaginou que seus instintos pudessem ser tão violentos.
"É só conversa", disse.
"Não é não. Você não acredita?" Respondeu a parede.
E disse que sim.
Então prometeu, que se ali fosse seu último dia feliz, de todos os outros ela guardaria uma coisa.
Nem Ana sabe o que ela guardou de hoje.
Mas Ana sabe que hoje passou na tv coisas chatas e fumou na janela.
Nada abaixo. Nada acima dela.
Estava tudo assim ó: como um mar sem água,
que quando bate o desespero de sereia sem cauda, 
mata.
Mas a questão não era essa. Ela não queria dividir nada. 

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