Dieta do Verão

De tanto estar cansada de tudo que a deixava cansada ela decidiu deixar de estar cansada porque tudo era muito cansativo. 
Ela pegou uma mala velha, jogou tudo o que era pesado dentro e desentupiu as veias de seu cérebro que deixava de transportar o sangue bombeado pelo coração. Para ali na garganta e ficava. Então ela vomitava.
Vomitava o café da manhã que era embalado com pão velho do dia anterior com gosto de pão novo ainda. Era costume: comer coisa velha pensando que ainda está como se fosse nova. Depois que passava a tarde vomitando aquela nostalgia com gosto ácido de arrependimento não sabia dizer o motivo. Mas todos sabem muito bem. Todos comem pão velho pensando que está novo. De novo. Mas o pão só é novo uma vez. Depois que envelhece, envelheceu. Não adianta re-esquentar, passar patê, maionese, ovo frito. Continua sendo velho. Pode até ficar mais gostoso que o pão novo normal. Mas continua velho. Passou da data. É de ontem. E o que é de ontem continua no ontem. 
Vomitava o almoço. E vinha tudo de uma vez. Tudo de uma vez no chão da cozinha. E chorava. Ah, como ela chorava! Desta vez a boca ficava com gosto de afeição gratuita. Sabe aquelas que você dá, não é nem oferecer, é dar mesmo. Então você dá um pedaço de afeição para alguém sem nem esperar receber. Mas sempre estamos esperando, é claro. Ninguém coloca uma ratoeira atrás da porta sem esperar que se pegue um rato. É fato!
Não tomou o café da tarde. 
Vomitou o jantar porque estava de estômago vazio. Passou muito tempo sem ingerir nada. Vomitou quando comeu. Normal. Tem gente que não aguenta mesmo superar a fome e vai comer a primeira porcaria que encontra na geladeira.  Depois que passa a madrugada vomitando aquela falta com gosto ácido de solidão não sabe dizer o motivo. Normal. Ninguém nunca sabe mesmo.
Talvez ela devesse iniciar uma nova dieta. 

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