A menina e o mágico de esquina-CONTO

Voltando da escola,Carol segue por um caminho quase linear,a única coisa que o difere é uma esquina luminosa.Toda noite passava por lá sozinha,pensava aflita sobre a sua vida e nada mais.
Em uma noite de quarta-feira,a menina andava em passos um tanto acelerados,sem prestar atenção em nada e sem olhar para os lados.Na esquina,encontrava-se um homem.Sua vestimenta era simples,usava um casaco preto desfiado na altura do joelho e uma cartola gasta.O pequeno chapéu cobria parte de suas madeixas,seus cabelos se esticavam até a orelha,ora alguns cachos,ora algumas mechas lisas.Em seu rosto um pequeno bigode crescia,aparentava mais uma fileta peluda sobre os lábios.Seus pés estavam descalços e uma calça curta comprimia até suas canelas.
Ela quase corria,quando o homem lhe chamou a atenção.''PSIUU...''
Carol olhou para o lado e viu a silhueta do homem,ela não parou,mas ele insistiu:
-Ei moça,posso tomar-lhe um minuto?
''Um minuto é muito'',pensou.Mas resolveu ceder.Fitando o homem dos pés a cabeça,ela imaginou que ele lembrava um pouco o Johnny Depp,ou então o Jack White do White Stripes.Parada diante do mágico,não falou nada,apenas esperou o show começar.
O mágico esfarrapado tirou do bolso um jogo de cartas.Pediu para a menina destacar uma delas,ela tirou o Ás de copas do baralho.O mágico marcou um ''X'' na carta e entregou novamente a carta para ela.De repente,ele fez uma expressão de surpresa e buscou uma carta atrás da orelha da garota.A carta era um Ás de copas com um ''X'' marcado.
A mágica não pareceu impressioná-la,ela permaneceu sem reação.O mágico não perdeu a magia da noite e não parou o show.
A menina ia sair andando com a carta na mão e retomar sua volta para casa,quando ele foi mais rápido e deu a volta em sua mesinha,parando exatamente na frente dela.Ele fez um cumprimento a moça.Ele tirou a cartola e abaixou a cabeça e sem que ela percebesse ou então pudesse ver,ele puxou da manga de seu casaco velho um pequenino buquê de flores.Aliás,havia apenas três pequeninas flores coloridas.
Carolina se encantou.Seus olhos se encheram de brilho.De todas moléstias e desgraças do mundo afora,ser sensível por somente um minuto não ia doer.
-O que quer moça?-Perguntou o mágico com uma carregado sotaque lusitano.
O homem olhou para ela como quem pudesse lhe dar o mundo.
Enquanto isso a menina pensou,olhou a lua lá em cima e respondeu:
-Eu quero a Felicidade!
O mágico esfarrapado riu.Ele olhou para os lados como quem esperava o trem e quase sem pensar disse:
-Eu posso te dar.
Agora era a vez dela,a menina riu.Ela desviou do mágico pobre e soberbo e partiu.
Na noite seguinte,o mágico continuava na esquina iluminada.
Carol parou e indagou com seriedade:
-O que quer em troca da minha Felicidade?
O homem maltrapilho deu um sorriso no canto da boca,deixou seus olhos se encontrarem com seus pés sujos e frios.
-Eu quero uma par de botas!
-Botas??!-Perguntou a menina indignada.
-É.Um par de botas!
A garota seguiu rumo a sua casa sem se despedir.Quinze minutos após,ela volta com um par de botas do pai.O mágico recebeu as botas em mãos e calçou-as logo.
-Vamos gajo!
-Gajo?Não sou homem!-Intrigou-se Carol.
-Oras,perdoe-me,mas não sei seu nome.Tu pareces a Cachinhos de ouro!
-Me chamo Carolina...mas pode me chamar de Cachinhos Dourados.-Respondeu a menina com um sorriso.
Os dois seguiram partida.
Depois de andarem por uma longa avenida,o mágico diz que chegaram.Ela pára diante da entrada e faz cara de tacho.
-Você me trouxe no circo?
-Vamos entrar,não precisamos de bilhetes.
Os dois entraram na tenda.Por dentro,o circo era enorme,bem enfeitado e multi-colorido.Ele escolheu um bom lugar para ela e partiu para trás das cortinas vermelhas.
Ela ficou sentada sem nada entender.O espetáculo começa exuberante.
Os minutos passaram voando.O momento mais aguardado da noite chegara e estava fazendo juz ao seu nome.Não era á toa que o espetáculo se chamava ''Felicidade''.
Naquele instante,o mágico maltrapilho entrava em cena.Suas roupas haviam mudado,mas ainda calçava as botas que ganhara.Ela ficou sem palavras.Extremamente fantástico,parecia um sonho.Para finalizar o show,o mágico tirou de sua orelha um Ás de copas marcado com um ''X'' e com sua varinha fez chover bolhas de sabão no público.O espetáculo estava findando.
Os dois se encontraram na saída,quando todos já haviam partido.O homem mulambento sentou ao lado da menina.
-Era essa a minha tal Felicidade?-perguntou ela.
-Não estás feliz?
Ela olhou o restante das bolhas de sabão que escapavam pela saída e sorriu solenemente.
-Eu estou muito feliz!Obrigada...
-Então o meu trabalho se acaba aqui.-O homem levantou e ia voltar para a tenda,quando foi interceptado.
-Ei,você vai partir assim?Me diz ao menos seu nome ou quem você é...
O homem sorriu e olhou para suas botas.
-Meu nome?Valmonte,mas pode me chamar de ''O gato de botas'' ou então ''o mágico de Oz''.Bom...Quem eu sou?Eu sou apenas um mágico maltrapilho de esquina que apesar de tudo,sempre estará com os pés tocando o chão.
Ele a reverenciou tirando a cartola e abaixando-se.Virou e seguiu partida para sua tenda enquanto algumas bolhas de sabão ainda saíam e corriam junto com a brisa solene e mágica da noite.

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